O “politicamente correto” é uma política que consiste em
tornar a linguagem neutra em termos de discriminação e evitar que possa ser
ofensiva para certas pessoas ou grupos sociais, como a linguagem e o imaginário
racista ou sexista.
Os defensores do "politicamente correto", em
tese geral, tem como objetivo tornar a linguagem mais neutra e menos
preconceituosa. Vejam-se os exemplos em diversas áreas, em que é típica a
utilização de termos masculinos para situações que se aplicam tanto a homens
como mulheres. Um exemplo do politicamente correto é a substituição do comum
"Tribunal Europeu dos Direitos do Homem" pela frase neutra em termos
de gênero de "Tribunal Europeu dos Direitos Humanos".
O conceito filosófico do politicamente correto é que ao
evitar a utilização destes termos discriminatórios estaremos trabalhando para
uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
A crítica surge em face de um conjunto monolítico de
atitudes, consideradas como corretas, que são muitas vezes impostas de um modo
inflexível e sem humor. Os seus detratores afirmam que além de ser inflexível e
sem humor, muitos ainda notam como uma nova forma de fazer censura, sendo que
sem punições, apenas usando como parâmetro que certas palavras não devem ser
usadas e como um desserviço à liberdade de expressão.
O termo tem a sua origem na religião, mais
especificamente na religião católica. A diferença é que, no caso católico,
“incorreção política” significa estar em desacordo com as ideias políticas da
Igreja Católica, já no presente caso, “politicamente incorreto” é aquilo que
gera exclusão. E, justamente por se tratar de uma sociedade aberta, o conteúdo
do que é “politicamente correto” está sujeito a mudanças por meios
democráticos.
A linguagem politicamente correta nos leva a pensar em
uma série de aspectos a respeito do funcionamento da linguagem. Ora, o uso de
uma linguagem não marcada por fortes conotações pejorativas é um meio de
diminuir comportamentos preconceituosos ou discriminatórios, porém, é preciso
atentar para dois aspectos.
O primeiro é que o cuidado excessivo na busca de
eufemismos para designar certos grupos sociais revela a existência de
preconceitos arraigados na vida social. Se assim não fosse, poderia empregar,
sem qualquer problema, por exemplo, o vocábulo negro, sem precisar recorrer à
expressão afrodescendente.
Em segundo lugar, os defensores da linguagem
politicamente correta acreditam que existam termos neutros ou objetivos, o que
absolutamente não é verdade. Todas as palavras são assinaladas por uma
apreciação social.
Considera-se que os termos bicha, veado, fresco são mais
preconceituosos que a designação gay. Isso é parcialmente verdadeiro, pois os
três primeiros estão marcados por pesada conotação negativa.
Na verdade, um termo funciona num discurso e não
isoladamente, por isso, nem todos os usos do vocábulo negro com valor negativo
denotam racismo. Por exemplo, dizer que há racismo na expressão “nuvens negras
no horizonte do país” é um equívoco, porque o sentido conotativo de “situação
preocupante”, que aparece no discurso político ou econômico, está relacionado à
meteorologia, nada tendo a ver com raças ou etnias.
Na verdade, considerar que a palavra exerce sua função
independentemente do contexto é afirmar então que as expressões passar em
branco todos aqueles anos ou dar um branco, no sentido de “passar sem ter
realizado coisa alguma aqueles anos” ou “sofrer uma incapacidade de lembrar ou
de raciocinar” são racistas.
Na verdade, não são.
Entretanto, o que era uma sadia reação aos preconceitos e
à discriminação tornou-se caricatural, debochado, tosco. Não poucas vezes,
ridículo!
Outra coisa que produz efeito contrário ao pretendido é o
uso de eufemismos francamente cômicos, quando a língua não possui um termo “não
marcado” para fazer uma designação que é vista como preconceituosa: por
exemplo, dizer “pessoa verticalmente prejudicada” em lugar de anão; “pessoa de
porte avantajado” em vez de gordo; “pessoa em transição entre empregos” por
desempregado. Isso gera o descrédito para os que pretendem relações mais
civilizadas entre as pessoas.
Por isso, as piadas já começam a surgir.
Tal e qual o conhecemos atualmente, o politicamente
correto representa a entropia do pensamento político. Como tal, é de impossível
definição até porque carece de um verdadeiro conteúdo. Seu fundamento básico é
aquele do vale tudo. Nele encontramos restos de um cristianismo degradado, de
um socialismo reivindicativo, de um economicismo marxista e de um freudianismo
em permanente rebelião. O politicamente correto consiste na observação da
sociedade e da história em termos maniqueístas. O politicamente correto
representa o bem e o politicamente incorreto representa o mal. O politicamente
correto não atende à igualdade de oportunidade alguma no ponto de partida,
senão, ao igualitarismo nos resultados no ponto de chegada.
Ninguém inventou o politicamente correto: ele nasceu como
consequência da decadência do espírito crítico da identidade coletiva, quer seja
esta social e nacional, quer seja religiosa ou étnica.
O politicamente correto é de uso comum entre os
intelectuais desarraigados, porém como é contagioso, é normal que outras
pessoas estejam contaminadas sem que por isso estejam conscientes disso.
A desintoxicação é difícil, na medida em que vivemos em
um mundo no qual os meios de comunicação adquiriram uma importância desmesurada
e são precisamente estes os encarregados do contágio massivo.
Por exemplo, há que dizer surdo em lugar de deficiente
auditivo, velhice em lugar de terceira idade, masturbação em lugar de autoajuda,
adúltero em lugar de pessoa casada com atividade sexual paralela.
Um gago nunca será um loquaz intermitente!
Os estragos produzidos pelo politicamente correto consistem
fundamentalmente em confundir o bem com o mal, sob o pretexto de que tudo é
matéria opinativa.
O politicamente correto está contaminando toda a cultura
e criando uma nova e dissimulada forma de censura, muito pior porque hoje a
censura é velada; é a censura do politicamente correto.
E uma das principais vítimas é o humor, o humor escrito e
o falado.
Humor que pede licença não é humor.
Cada vez mais grupos, grupelhos, guetos, classes, pessoas
públicas e privadas reivindicam imunidade contra a crítica.
Experimente chamar um homossexual de veado, bicha,
abafador ou qualquer outra expressão similar; você logo será acusado de
homofóbico - como se ser homofóbico fosse um crime.
Uma pessoa politicamente correta considera-se a si mesma
tolerante, porém não pratica a tolerância…
É verdade que o politicamente correto nos espreita e se
apresenta sempre com argumentos inocentes e de fácil assimilação.
Trata-se de rechaçar sua inocência e repudiar essa
facilidade de assimilação.
É necessário, do mesmo modo, prevenir-se contra o
mimetismo de falar como os demais.
Repetindo ainda o risco de parecer pesado, o vocabulário
politicamente correto é o principal veículo de contágio.
Em qualquer caso, há que afirmar que o politicamente
correto é uma fé débil e que, como tal, não resiste a uma enérgica aplicação do
espírito crítico.
Não temos que ser submissos aos sentimentos e opiniões
generalizadas: o espírito contraditório mais obtuso vale sempre mais do que a
livre aceitação do pasto mediático.
O politicamente correto prepara o terreno de forma ideal
para as operações de desinformação e para a expansão da globalização.
Quando todo o mundo acreditar que as verdades podem ser
objetos de truque, de que não existem nem verdades nem mentiras, o mundo estará
preparado para receber a mesma propaganda, de participar da mesma
pseudo-opinião pública fabricada para consumo universal.
E esta pseudo-opinião pública aceitará qualquer ação,
inclusive as mais brutais que indefectivelmente irão em benefício dos
manipuladores.
A linguagem, a capacidade de comunicação através da
palavra, é o aspecto mais característico da espécie humana.
A linguagem, porém, não serve só pra comunicação.
Ela é também um veículo de crenças, de valores, de
paradigmas comportamentais, de ação, e, como tal, tem uma história.
O domínio do politicamente correto é chato, muito chato. Tão
chato que chega a causar arrepios: por causa do politicamente correto, já
ninguém mais chama ninguém de corrupto ou ladrão, mas de pessoa com falta de
ética.
As palavras ferem e, como diz o poeta “as lágrimas não
cicatrizam”.
Por isso, para criar um mundo melhor, é importante usar
uma linguagem que não machuque os outros, que não revele preconceitos, que não
produza discriminações.
É necessário, porém, que, para ter eficácia, esse
trabalho sobre a palavra respeite a natureza e o funcionamento da linguagem.
O caminho mais adocicado pra impor a ditadura moderna e
eliminar todo e qualquer tipo de oposição criativa inteligente vem com o
politicamente correto.
O neofascismo e os neofascistas, disfarçados e apesar de
ocultos sob cínicas capas, desde as mais brancas às mais vermelhas, passando
pelos mais oportunistas capitalistas, socialdemocratas, marxistas, pragmáticos,
ladrões, proxenetas, prostitutas/os, viciados, afinal e em resumo, não mais do
que criminosos das mais variadas espécies, estão bem presentes.